terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Hora de falar de comida!

 
Nos últimos meses, tenho tido a sorte de viver num país abastado, onde as pessoas muito raramente não tem acesso à uma alimentação digna. A alimentação aqui é tão acessível que tenho comido salmão toda semana (rsrsrsrsrs), o que para mim é uma surpresa, tendo em vista que é uma carne muito cara em meu país. Em contrapartida, a cada dia que passa, percebo o grande desperdício de alimento que ocorre aqui. E a cada vez que vejo comida sendo jogada no lixo, me dói o coração.

Nasci em 89, período em que o Brasil ainda passava por graves recessões econômicas. Tínhamos passado por uma ditadura recente, tivemos nossas primeiras eleições diretas e várias trocas de moeda. Eu, mesmo pequena, lembro de quando finalmente chegamos ao plano real no governo de Itamar Franco... Enfim, não era uma época fácil. Os governos anteriores haviam drenado as riquezas do País, as altas da inflação levaram muitos a miséria e os já miseráveis, à pobreza extrema.

Aprendi cedo a valorizar uma refeição. Nem sempre tínhamos o suficiente para comer e em alguns momentos, fomos socorridos por amigos e parentes. A fome rondou nossa casa como a de inúmeros brasileiros. Lembro das vezes em que deixei algumas colheres de comida no prato e minha mãe, ao invés de colocar no lixo, guardou para o jantar. Eu detestava esse hábito dela. Hoje agradeço.

Nunca tive manias com comida, mas odiava a tal dobradinha com molho que várias pessoas adoram. O problema era que o prato (feito de "bucho" de boi) era bastante acessível para as familias pobres, portanto, inevitavelmente, eu era obrigada a comê-lo em casa. Em certa ocasião, quando chegava faminta da escola, depois de encarar um longo congestionamento na, até então, não duplicada Br 101 e caminhar por mais um pedaço enorme para minhas perninhas de 6 anos, senti o cheiro da dobradinha. Chorei muito. Não queria comer de jeito algum, mas estava com muita fome e aquele era o unico alimento em casa, cozido num fogão improvisado com tijolos e lenha de segunda mão. Nunca esqueci! Tive de comer mesmo sem vontade...

Não tive uma infância tão fácil como a das crianças inglesas. Entretanto, adquiri valores que carrego comigo para cada canto que vou. Tenho consciência de que, enquanto saboreio meu almoço, existem milhares que não tem nada. Multidões famintas. Eu sofro com isso. Mas, como superei a miséria (assim como muitos contemporâneos), muitas vezes esqueço do barulho de barriga roncando madrugada à dentro e do quanto isto é cruel.
 
No entanto, mesmo em meio ao meu egoísmo diário, ultimamente a cada vez que vejo alguém colocar restos (algumas vezes intactos) de alimento na lixeira, agradeço à Deus por tudo o que passei, além de ter fortalecido meu caráter, me fez enxergar o quanto ainda preciso melhorar e incentivar os que me rodeiam a melhorar também. Tenho me empenhado nisso. Não quero dormir sabendo que a fome está atrapalhando o sono de alguém. Na casa em que vivo, a frase "eu como! não coloca na lixeira", já virou meu lema (rsrsrsrsrs). Não, eu nao estou comendo todas as sobras dos pratos (embora algumas coisas sequer tenham sido tocadas, serao trituradas e mandadas às redes de esgoto! =(  ), mas aquelas sobras nas travessas eu tenho tentado aproveitar num risotto, num omelette, num ensopado...qualquer coisa!

Mas,  por onde começar!? Você pode ir fazer trabalho voluntário na África, doar dinheiro para causas sociais, cobrar soluções políticas... Todavia, na minha humilde opinião, acho que o mais certo a fazer é mudra maus hábitos. Coisas simples como ensinar seus filhos a colocar no prato apenas o necessário e evitar ao máximo o desperdício, já são um grande passo.
 
Eu não tenho todos os dados e estatísticas necessários, mas já li várias vezes que o problema da fome no mundo, não tem como fator principal a produção de alimento e sim sua má distribuição. Ou seja, em muitos lugares a comida simplesmente não chega!!! Claro que se você parar de jogar comida fora não vai mudar isso hoje, mas, acredite, pode melhorar se todos nos conscientizarmos. Sempre vou acreditar que pequenos gestos, embora demorem um pouco, conseguem sim revolucionar grandes atitudes.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Das coisas que a gente aprende ...




E a cada dia que passa aprecio mais o silencio. Justo eu  que sempre fui intensamente barulhenta, por dentro e por fora, agora posso ficar calada, olhando o jardim congelado, por horas...

Tenho tido bons momentos comigo. Me ouço, reflito, derramo uma lágrima ou outra e dou o tempo necessário para o coração acalmar. Pensando bem, talvez essa seja uma das caracteristicas de que finalmente crescemos, a gente aprende a chorar.

Sem espasmos, soluços e ombros balançando. Sem gritaria. Sem volume.  Deixando o coração aguar toda a tristeza em silencio absoluto, com um turbilhão por dentro, mas por fora, pura calmaria. 
 
O silencio é um pouco solitário, admito.  E longe de casa pode ser assustador. Mas, quando o cansaço inunda a mente e incapacita de ouvir a multidão,  ele me cai bem, feito luva em mao sem par.
 
Ficar em silencio, ouvindo o ranger da escada de madeira, no meio de uma tarde cinza requer força de vontade. Há tantos sons lá fora, tanta música... Mas, quem não aprende a conviver com a ausencia de ruído nunca vai conseguir ouvir o que é realmente necessário. Aquela coisinha tão constantemente ignarada e tão incrivelmente necessaria chamada consciência.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Um pouco de Deus...


Nós  brasileiros somos, em grande maioria, ligados ao cristianismo e, antes que voce diga "mas eu sou ateu!", lembre da quantidade de vezes que já exclamou, na hora do aperto, "meu Deus do ceu"...rsrsrsrs...pois é, querendo ou não, somos culturalmente inseridos no mundo cristão.

Comigo não foi diferente, cresci num lar "crente" , como o povo fala por aí, desde pequena frequentei a igreja adventista e aprendi coisas lindas nela. Me tornei a pessoa que sou, graças aos ensinos e o amor a um Cristo que me cativou e conquistou o coração.

Além disso,  sempre tive a sorte de estar cercada de pessoas extremamente inteligentes e essas pessoas  são  as que mais tem dúvidas ! Curioso  não!? Mas é assim, quem gosta de aprender sempre tem um "será ?" na ponta da  língua . Isso é ótimo, acho lindo quem aponta o dedo e pergunta : hey, mas se não for beeem assim!?

Por este motivo nunca gostei dos discursos pastorais que desestimulam o pensamento crítico . Vi isso poucas vezes no adventismo, mas sei que é bem presente em muitas  denominações . Sempre quis saber o por quê das coisas. Teimei com pastores, questionei professores de história, ciência , li muita coisa boa e muita porcaria também. No fim das contas, cheguei à conclusão. Nao existe resposta!

Não, de fato não existe. Nem a mente mais brilhante e pragmática deste planeta consegue ter certezas sobre nossa existência. Tudo não passa de teoria. Algumas muito bem fundamentadas, outras nem tanto.

Por fim, escolhi acreditar em algo! Eu sei, pode parecer uma  expressão   romântica de fé crer num ideal de ser perfeito em amor, que é no que creio. Mas, caramba, eu tinha que acreditar naquilo que realmente me soou plausível, naquilo que me pareceu mais  palpável . Agora, se  você  for dos meus vai indagar: mas desde quando Deus é palpável? E eu vou ser honesta em minha resposta, Ele não é. Ao menos  não  hoje, não  agora...

Entretanto, se observarmos, existe algo movendo esse mundo, desde os tempos mais remotos, algo que desperta o coração e faz todos os povos, de todas as épocas ,buscarem um deus. Vivo ou não. Essa busca incansável é uma prova da consciência que possuímos de nossa finitude e fragilidade. E este deus tao buscado e clamado, pode existir ou não. Porém , eu acredito piamente ter encontrado o meu.

Como mencionei no comeco deste texto meio perdido, cresci num lar cristão, adventista e por muito tempo busquei asilo nos braços de uma igreja que me acalma e traz paz ao coração. Acredito nos ensinos de eternidade da palavra de Deus, que esta igreja amorosamente prega e sou infinitamente agradecida por isso.

Ocorre que, recentemente, tive a surpresa (que foi um presente para mim) de conhecer uma igreja tão diferente mas que, neste instante da minha vida, me deu o que eu precisava. Um lugar para chorar com toda a força  do mundo. Sem ninguém apontando ou estranhando.

Eu entrei, sentei, ouvi as musicas, ninguém questionou a roupa que eu estava vestindo, se eram apropriadas ou não, se era uma calça  surrada ou uma saia de corte perfeito, se estava de salto ou com meu pior tenis e tampouco se eu era apropriada para a  presença  do Eterno. Apenas me deixaram a sós , no meio de uma  multidão , com alguém que realmente me enxerga. 

Alguém que me viu na terceira fileira da ala da direita naquela noite, que me viu cruzar o portao 3 e entrar num avião com um monte de tristezas na mala, rumo ao cenário das  páginas  dos meus livros, alguém que viu minha alma destroçada  e meus olhos inchados e camuflados com maquiagem. Entao eu desabei e falei com Ele: " hey, você pode fazer algo com essa dor? Você pode aliviar este peso enorme dos meus ombros? Pode, por favor, me dizer o que fazer? Eu sinceramente não sei." Depois disso, infelizmente,  eu não voltei pra casa com tudo resolvido. Não. Mas voltei com a alma de joelhos, entregue!  O que já é um bom passo.

Talvez você de fato não compreenda e me julgue ingênua, alienada ou qualquer dessas coisas. Mas, como posso não atender a um chamado tão profundo e antigo, que já falou no  coração  de tantas gerações ? Como não aceitar este pedido de entrega genuína e de total confiança em algo maior. Não seria o caso de ser um pouco flexível e acreditar que, talvez, (apenas considere este talvez) o Deus pintado nas  páginas  de um livro de fato exista e esteja chamando?   Tudo o que consegui, em meio as lágrimas, foi balbuciar " ok, estou aqui. E agora?"

Eu nao sei como vai ser meu amanha e acredite, isso me assuta um bocado, mas para explicar direitnho o que estou sentindo ao escrever estas linhas, sentada numa cama estranha, num quarto estranho, cuja unica familiaridade é meu velho pijama xadres, vou parafrasear Victor Hugo : "sou como um passáro que pousa sobre um galho frágil de árvore e, ao senti-lo  ceder e partir, canta em paz. Ele sabe que tem asas".

Obrigada!